Carta Mensal de Investimentos Julho/24

Análise mensal completa sobre o mercado de investimentos no exterior produzida pelo time de research.

por

Paula Zogbi

4 min.

-

Publicado em

30/6/2024

30 anos do real: as duas faces da moeda

Faz 30 anos que vencemos a ameaça da hiperinflação com o lançamento do plano real. As mudanças nas vidas das pessoas não foram pequenas. Para quem lembra de como era gerenciar as finanças antes do surgimento do real, a estabilidade da moeda é uma conquista das mais preciosas. A forte corrosão no poder de compra desorganiza a vida econômica de diversas maneiras. Os preços têm que ser reajustados com frequência, mas não acontecem de forma coordenada, dificultando estabelecer as relações entre os produtos (os tão importantes preços relativos). O mesmo vale para a correção de salários e demais contratos. Saber o que é caro ou barato fica muito difícil. Planejar o futuro passa a ser uma missão ingrata, e as decisões de consumo e investimentos são realizadas sob espessa neblina.

Entre 1980 e 1994 a inflação média no Brasil foi de 95.302.476% ao ano. Flertamos com a hiperinflação em diversos momentos. Antes do Plano Real, diversas tentativas de domar a inflação foram implementadas. Via de regra, o mecanismo principal girava em torno do controle artificial dos preços (a exceção foi o Plano Collor de 1990, que confiscou a poupança da população em uma medida extrema de redução da liquidez da economia). Todos derrubaram a inflação logo após a implantação mas não obtiveram sucesso a longo prazo. A longa sequência de baixas gerou um ceticismo na população, que passou a acreditar que viver com inflação alta seria inevitável no Brasil.

Mas o real mudou essa história. Aprendendo com os planos que não deram certo, inspirado em trabalhos acadêmicos sobre o componente inercial da inflação e em exemplos de hiperinflação (particularmente o caso da Alemanha na década de 1930), após ajustes fiscais, o Plano Real combinou uma forma engenhosa de quebrar a inércia no reajuste de preços (com o mecanismo transitório da unidade real de valor - URV) com uma âncora cambial (câmbio fixo). Além disso, fazia parte do plano a identificação de reformas estruturais que seriam necessárias para dar sustentação à estabilidade da moeda em prazos maiores. Ajustes foram necessários ao longo do percurso e, no final da década de 1990, abandonamos o câmbio fixo ao estabelecer o tripé macroeconômico que vigorou na primeira década do século 21: câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário.

O real sobreviveu às primeiras décadas deste século, atravessando governos com orientações diferentes, e deixou para os livros de história o período de inflações altas. Mas podemos considerar que toda a missão foi cumprida? Se olharmos apenas para o Brasil antes e depois do real, temos de fato que celebrar. No entanto, se levarmos em consideração a realidade internacional, fica claro que ainda há um caminho a percorrer. 

Podemos ilustrar os desafios que nos restam comparando a evolução do real com o dólar americano nesses últimos 30 anos. Primeiramente, percebemos que, apesar de ter caído bastante e mudado de patamar, a inflação no Brasil permaneceu mais alta que nos EUA em boa parte do tempo, como ilustrado no gráfico a seguir.

Fonte: Investing. Data: 28/06/2024

Em segundo lugar, é nítido que o real perdeu valor com relação ao dólar. Em termos nominais, a taxa de câmbio no início do plano real era um pra um. Hoje, precisamos de mais de R$ 5,00 para comprar um dólar.

O resumo é que, sim, temos que comemorar com vontade os 30 anos do plano real e não poupar esforços para proteger a estabilidade de nossa moeda. Mas não podemos esquecer que ainda temos muito o que evoluir para que o fantasma da inflação fique definitivamente no passado e para que o real possa entrar no grupo das moedas fortes do mundo.

Por que investir no exterior? | Proteção

Como mencionamos na Visão Nomad, apesar de inegável contribuição para a economia brasileira, o real continua sendo uma moeda relativamente instável na comparação com o dólar. Como pessoas que têm uma parcela relevante das nossas receitas em reais, nós, brasileiros, podemos tentar minimizar esse efeito através de investimentos dolarizados, lembrando sempre que a performance cambial é imprevisível, principalmente no curto prazo.

Para ilustrar, confira a evolução da taxa de câmbio real vs. dólar desde a implementação do Plano Real. 

Fonte: Investing. Data: 28/06/2024

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Paula Zogbi

Gerente de Research e Head de conteúdo na Nomad, tem mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro, foi head de conteúdo na XP, analista na Rico e jornalista na InfoMoney e EXAME. É graduada em jornalismo pela USP e tem certificação CNPI pela Apimec.

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