Carta Mensal de Investimentos Junho/24

Análise mensal completa sobre o mercado de investimentos no exterior produzida pelo time de research.

por

Paula Zogbi

7 min.

-

Publicado em

31/5/2024

Dólar acima de R$ 5,20: até quando?

Após quase um ano com a taxa de câmbio próxima dos R$ 5,00 por dólar, observamos forte depreciação do real em abril que se manteve durante maio. O mês passado encerrou com o dólar em torno de R$ 5,25. O que mudou? Será que o dólar voltará para baixo de R$5,00 no curto prazo?

Como sempre falamos, antecipar movimentos do dólar é ingrato, dado o grande número de fatores que impactam oferta e demanda. Mas a posteriori é possível analisar as mudanças que provavelmente contribuíram para as alterações do câmbio e o que esperar para frente.

No contexto externo, não tem como fugir do tema dos juros nos EUA. Nesse sentido, o que vimos foi que a estabilidade da inflação durante 2024 até o momento não gerou a confiança extra que os membros do comitê de política monetária (Fomc) declaram precisar para iniciar o ciclo de cortes. Adicionalmente, indicadores de atividade econômica e questões fiscais têm sugerido que o eventual ciclo tende a ser tímido, atingindo no máximo um ponto porcentual até meados do ano que vem. O resultado é que o período com juros altos permanece indeterminado, atraindo recursos para os EUA e fortalecendo o dólar.

Mas o contexto doméstico também não tem ajudado. A mudança da meta fiscal em abril aumentou a desconfiança dos agentes econômicos em relação ao comprometimento do governo com a estabilidade das contas públicas. E a confiança não foi recuperada em maio. Ao contrário, a mudança de presidente da Petrobras e o processo de substituição do presidente e diretores do Banco Central, no início do ano que vem, adicionaram incertezas. Finalmente, temos impactos fiscais da tragédia climática no RS. Com isso, a bolsa tem amargado perdas e o real tem se desvalorizado mais do que a maioria dos emergentes.

A situação pode mudar? Sim, existem sinais de arrefecimento no mercado de trabalho americano e não é improvável que finalmente a inflação comece a percorrer a já proverbial última milha em direção à meta. De outro lado, há esforços do governo brasileiro em melhorar a comunicação com o congresso e o mercado busca retomar o patamar de 2023. Hoje, as projeções no Boletim Focus apontam para um câmbio de R$ 5,10 no final do ano. Portanto, patamares próximos de R$ 5,00 não são descartados. 

Mas, parafraseando o que foi dito nas últimas atas do Copom, as incertezas aumentaram, doméstica e internacionalmente. E o aumento de incerteza anda junto com ampliação de riscos, o que por sua vez fortalece o dólar. O patamar dos R$ 5,20 não parece fora do lugar no atual cenário.  

Maio também marcou o fim da temporada de resultados do primeiro trimestre de 2024, renovando as boas projeções principalmente para a tese de Inteligência Artificial. De maneira geral, 8 de 11 segmentos do S&P tiveram crescimento de receita, conforme dados da FactSet, ainda que nem todas as distorções do pós-pandemia tenham sido superadas. Nos 45 do segundo tempo, a Nvidia apresentou crescimento de 262% na receita, para US$ 26 bilhões, projeção de aumento para US$ 28 bilhões e destaque para os data-centers de computação em nuvem, correspondendo a aproximadamente 87% da receita total. 

O resultado e a projeção de Nvidia não são positivos só para a própria empresa: em 2024 até agora, os setores que mais se valorizaram na bolsa americana são os ligados à inteligência artificial, como utilidades públicas e o próprio segmento de tecnologia - vale lembrar que muitas companhias vêm investindo pesado nessa frente (a Alphabet reportou um investimento de US$ 12 bilhões, por exemplo).

Para junho, será importante observar o quanto esses bons resultados seguirão fazendo preço nos mercados — antes que a próxima temporada comece. 

Com os juros americanos nos patamares atuais, ativos de renda fixa dos Estados Unidos seguem remunerando investidores a taxas historicamente elevadas. Confira os ETFs de renda fixa mais negociados do mercado, segundo o site ETF.com

Por que investir no exterior? | Volatilidade

Diversificação é uma das principais maneiras de buscar diminuir os riscos de uma carteira de ativos.

De forma simples, a estratégia consiste em alocar seus recursos em ativos que sejam pouco correlacionados entre si, ou inversamente correlacionados, de forma que a variação de um ativo possa ser compensada pelo desempenho de outros.

Investir no exterior, de forma diversificada, tende a diminuir o peso de desvalorizações de ativos específicos, já que parte da sua carteira pode compensar o movimento negativo. Neste ano, por exemplo, a bolsa brasileira tem o pior desempenho entre os países do G20 até agora, conforme a tabela a seguir. Investidores com a carteira menos correlacionada ao desempenho brasileiro podem ter atingido resultados mais interessantes. 

Lembre-se sempre de adequar sua exposição a ativos ao seu perfil de investidor. 

Desempenho das principais bolsas de valores do G20 global em 2024

Fonte: FactSet. Data de consulta: 23/05/2024

Mundo em gráfico

A bolsa americana (representada pelo S&P 500) segue com desempenho positivo, apesar de ter atingido um prêmio de risco negativo em relação aos ativos considerados livres de risco. Isso é sinal de bolha? Não necessariamente. Explicamos mais na Live Nomad em 20/05/2024 - assista clicando aqui!

Prêmio de risco das ações americanas em relação aos Treasuries de 2 e 10 anos

Fontes: Factset. Data de consulta: 17/05/2024

Paula Zogbi

Gerente de Research e Head de conteúdo na Nomad, tem mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro, foi head de conteúdo na XP, analista na Rico e jornalista na InfoMoney e EXAME. É graduada em jornalismo pela USP e tem certificação CNPI pela Apimec.

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