Carta Mensal de Investimentos Maio/24

Análise mensal completa sobre o mercado de investimentos no exterior produzida pelo time de research.

por

Paula Zogbi

8 min.

-

Publicado em

30/4/2024

Tempestade em abril pode anteceder calmaria em maio?

O início do segundo trimestre foi marcado por mudanças nas expectativas dos agentes econômicos. Em abril tivemos o acirramento da crise no Oriente Médio, com ataques entre Irã e Israel, que aumentaram as percepções de risco global, pressionando preços do petróleo e fortalecendo a moeda americana. No entanto, mais uma vez, foram as perspectivas para a política monetária nos EUA que concentraram as atenções e dominaram as análises sobre as diversas classes de ativos espalhadas pelo planeta.

Recapitulando, o ano iniciou com muitos analistas externando otimismo e com o mercado comprado com a ideia de que os juros começariam a cair já no primeiro trimestre. Além disso, os contratos futuros sugeriam um orçamento de cortes que poderia chegar a 1,0 ou 1,25 ponto percentual. Esse quadro já começou a mudar após a primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Fomc). No comunicado da reunião de janeiro apareceram 3 mensagens que deram o tom para o primeiro trimestre: 1. a evolução dos indicadores de inflação e atividade no segundo semestre de 2023 foi muito positiva; 2. o ciclo de altas na taxa de juros foi encerrado; 3. os participantes do Fomc precisam ganhar uma confiança extra de que a inflação de fato caminha para a meta de 2% de forma sustentável antes de iniciar o próximo ciclo de afrouxamento monetário. Ou de forma resumida: estamos indo bem, mas ainda não ganhamos a guerra. A leitura do mercado foi a de que os juros só começariam a cair no meio do ano e que o orçamento de cortes provavelmente seria de 0,75 ponto percentual. O pouso suave permaneceu como cenário base, mas a chamada última milha do combate à inflação mostrava-se mais acidentada do que o antecipado.

Esse quadro durou até o final de março, mas dados fortes no mercado de trabalho, inflação e varejo  no mês passado resultaram em mais recalibragem de expectativas. A nova interpretação é que o início do ciclo de redução nas taxas de juros ficou “indeterminado” e que muito provavelmente o orçamento de cortes será menor do que imaginávamos. Com isso, exagerando o argumento, a expressão consagrada em 2023 dos “juros mais altos por mais tempo” corre os riscos de virar “juros mais altos para sempre”. Objetivamente, o mercado passou a apostar que os cortes podem começar a partir de setembro e possivelmente não passarão de 0,5 ponto percentual.

Isso tudo resultou em movimentos amargos para os mercados globais. O S&P500 caiu 4,2% em abril, em seu primeiro declínio mensal de 2024; o Nasdaq perdeu 4,5% e o ETF de juros longos (TLT) desvalorizou 6,5% em meio às altas nas taxas de juros. O setor imobiliário, bastante sensível a juros (falamos mais sobre isso nessa live), teve a pior performance entre todos os segmentos da bolsa americana no mês, com queda de 8,5%. Esse era um movimento esperado por alguns players, já que a bolsa vinha apresentando desempenho forte mesmo com as mudanças contínuas (para cima) nas projeções das taxas de juros ao longo do primeiro trimestre.

Mas o início de maio já trouxe elementos com potencial de modificar as expectativas novamente. No primeiro dia do mês, o Fomc manteve, pela sexta vez consecutiva, a taxa básica de juros no intervalo entre 5,25% e 5,5% ao ano. A decisão já era esperada e todos estavam atentos aos eventuais sinais para postergar o início do ciclo de cortes. A grande mudança no comunicado foi reconhecer a resistência da inflação nos últimos meses, o que poderia ter sido interpretado pelo mercado como a confirmação de que os juros não deverão começar a cair tão cedo e que, com os dados até o momento, o tamanho do ciclo de cortes deve ser bem mais tímido do que o anteriormente esperado.

Por outro lado, os indicadores de atividade adicionaram elementos que podem incentivar a política monetária para outra direção. As estimativas preliminares do PIB para o primeiro trimestre apontam para uma considerável desaceleração da economia e os últimos dados de contratações vieram abaixo da média dos últimos doze meses. Na entrevista, após a reunião do Fomc, o presidente Jerome Powell mencionou que, além da queda da inflação, o enfraquecimento da atividade econômica e do mercado de trabalho, além do considerado saudável, pode ser o gatilho para a redução das taxas de juros.

Maio certamente está iniciando de forma mais construtiva do que abril, com os mercados avaliando positivamente tanto as comunicações do Fomc como os indicadores de atividade econômica. O mês está só no início, mas é possível que traga outra reviravolta nas expectativas sobre a trajetória de juros nos EUA, dessa vez para o lado positivo. Nesse caso, será interessante observar como os mercados podem se comportar.

Com os juros americanos nos patamares atuais, ativos de renda fixa dos Estados Unidos seguem remunerando investidores a taxas historicamente elevadas. Confira os ETFs de renda fixa mais negociados do mercado, segundo o site ETF.com

Por que investir no exterior? | Diversificação setorial

Diversificação é uma das principais maneiras de buscar diminuir os riscos de uma carteira de ativos.

De forma simples, a estratégia consiste em alocar seus recursos em ativos que sejam pouco correlacionados entre si, ou inversamente correlacionados, de forma que a variação de um ativo possa ser compensada pelo desempenho de outros.

Investir no exterior pode trazer a vantagem da diversificação de algumas maneiras diferentes, como a moeda e a geografia. Uma delas é a possibilidade de explorar empresas e setores que são pouco representados na bolsa e no mercado aqui no Brasil, como tecnologia, por exemplo. 

Na imagem a seguir, mostramos a concentração de cada setor no ETF EWZ, que representa a bolsa brasileira, e no ACWI, um dos maiores representantes dos mercados globais dentre os fundos listados. 

Lembre-se sempre de adequar sua exposição a ativos ao seu perfil de investidor. 

Exposição setorial S&P500 vs Brasil (%)

Fonte: BlackRock. Data de consulta: 15/03/2024.

Gráfico do mês

Já ouviu falar que o real é uma moeda volátil? No gráfico do mês, mostramos um pouco do movimento da nossa moeda em relação ao dólar ao longo dos anos. Esse foi o tema da Live Nomad em 22/04/2024. Assista clicando aqui.

Dólar vs. Real nos últimos 30 anos

Time Nomad

Paula Zogbi

Gerente de Research e Head de conteúdo na Nomad, tem mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro, foi head de conteúdo na XP, analista na Rico e jornalista na InfoMoney e EXAME. É graduada em jornalismo pela USP e tem certificação CNPI pela Apimec.

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