O que explica o rali do Bitcoin e o que esperar

O segundo mandato pró-cripto de Trump impulsiona o rali do Bitcoin

por

Paula Zogbi

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Desde a eleição de Donald Trump para o seu segundo mandato presidencial nos EUA, as criptomoedas, em especial o Bitcoin, têm passado por um rali significativo. O movimento é embasado na perspectiva de um governo que proativamente irá estimular a evolução desse mercado. Mesmo antes de vencer a eleição, o então candidato já havia demonstrado interesse em favorecer essa classe de ativos, afirmando em um evento realizado no meio do ano que pretendia transformar os Estados Unidos na “capital mundial dos criptoativos”, além de defender que toda a mineração de Bitcoin ocorra em território norte-americano. Uma das propostas mais impactantes é  a criação de uma reserva nacional de Bitcoin, o que aumentaria a demanda pelo ativo, considerando sua dinâmica de oferta e procura.

Outra alavanca para o movimento é a perspectiva de um cenário regulatório mais favorável à negociação e custódia de criptoativos, após anos de batalhas regulatórias. Nesse contexto, em novembro, Trump indicou Howard Lutnick para o Departamento de Comércio. Lutnick, defensor do Bitcoin e CEO da Cantor Fitzgerald — principal custodiante da Tether —, representa mais um sinal de que a administração pretende criar um ambiente favorável às criptos. Pouco depois, o presidente-eleito apontou Paul Atkins para a SEC, destacando em postagem na rede Truth Social a importância dos ativos digitais e outras inovações para tornar a América “maior do que nunca”. Essa escolha ousada representa uma ruptura clara com a era de fortes empecilhos por parte da SEC, sinalizando um novo capítulo para a indústria. A mensagem de Trump é clara: a inovação vem em primeiro lugar.

A nova composição do Congresso também contribui para esse quadro, já que mais de 240 senadores pró-cripto foram eleitos. 

Mas nem todo o movimento pode ser atribuído ao futuro governo, até porque o rali atual vem de bem antes das eleições. No front regulatório, a aprovação dos ETFs de Bitcoin nos EUA em janeiro de 2024 marcou um ponto de inflexão, dando maior legitimidade ao mercado cripto e atraindo investidores institucionais. Em seguida, o halving do Bitcoin em abril — um evento que historicamente reduz a oferta do ativo e pressiona seu preço para cima — e a aprovação do ETF de Ethereum em julho reforçaram a confiança do mercado. Novos produtos, como as opções de compra e venda dos ETFs de Bitcoin da BlackRock, continuam movimentando a demanda pelos ativos subjacentes - o próprio Bitcoin. 

Quando o Bitcoin ETF foi lançado em janeiro, o discurso predominante era de que haveria uma grande corrida inicial, seguida por uma estabilização nos fluxos. No entanto, o que estamos vendo agora é exatamente o oposto: os fluxos seguem crescendo de forma acelerada, contrariando todas as expectativas iniciais. Em novembro, ETFs de Bitcoin à vista alcançaram um marco histórico, com US$ 6,2 bilhões em entradas líquidas — o maior valor já registrado para esse tipo de veículo, superando o recorde de US$ 6 bilhões alcançado em fevereiro.

Nesse cenário, a estratégia da MicroStrategy chama a atenção. A empresa, que concentra um grande volume de Bitcoin em seu caixa, viu seu valor de mercado ultrapassar US$ 100 bilhões e praticamente dobrar desde a eleição de Trump. Mantendo uma postura agressiva, a companhia realiza constantes aquisições da criptomoeda, financiadas por vendas de ações, que totalizaram US$ 6,6 bilhões, e pela emissão de bonds conversíveis em ações.

O plano da MicroStrategy, que já possui mais de 400 mil bitcoins, é ainda mais ambicioso: levantar US$ 42 bilhões em capital, via emissão de novas ações e dívidas, nos próximos três anos para comprar mais BTC. Em 2024, o retorno da MSTR ultrapassa 500%, transformando o perfil da empresa de fornecedora de software em uma “Bitcoin Treasury Company”, conforme descreveu seu CEO, Michael Saylor. Em suas apresentações institucionais, Saylor enfatiza que, apesar de atingir o marco histórico de 100 mil dólares, o Bitcoin ainda representa 0,2% do valor total dos ativos globais.

Desse modo, o mercado de criptoativos segue otimista, adentrando em um cenário favorável que poucos poderiam antecipar. A convergência entre regulação e legitimidade por parte dos atores políticos, inovação tecnológica e crescente interesse de investidores institucionais faz dessa classe de ativo uma das grandes histórias do ano de 2024 e um forte candidato a protagonista para o próximo ano.

Paula Zogbi

Gerente de Research e Head de conteúdo na Nomad, tem mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro, foi head de conteúdo na XP, analista na Rico e jornalista na InfoMoney e EXAME. É graduada em jornalismo pela USP e tem certificação CNPI pela Apimec.

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