por
Paula Zogbi
3 min.
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Publicado em
23/7/2024
Os desdobramentos recentes das eleições dos EUA adicionaram mais tempero a um mercado que já tinha muitos ingredientes no caldo. Nas últimas semanas, especialmente após o primeiro debate entre os então pré-candidatos, vimos as bolsas de valores migrarem para um movimento conhecido como Trump Trade.
Para contexto, de maneira geral, o mercado espera que um segundo governo Trump seja mais protecionista, aumentando tarifas de importação e estimulando as indústrias americanas, inclusive com potencial flexibilização de regulações e diminuição de impostos corporativos. Tudo isso tenderia a pressionar a inflação e potencialmente manter as taxas de juros altas por mais tempo nos EUA.
Por um lado, esse movimento poderia estimular o crescimento de algumas categorias, como small caps e o setor financeiro; por outro, empresas de tecnologia, cujas operações são muito ligadas a players chineses, tendem a ser afetadas negativamente.O posicionamento do candidato a favor de combustíveis fósseis também pode trazer fluxo investidor a companhias ligadas a essas atividades, em detrimento de empresas mais focadas em energias renováveis.
Como antecipação e expectativas dão o nome do jogo na bolsa, tudo isso foi precificado no mercado por um período, especialmente na sequência do atentado que feriu a orelha de Trump em 14 de julho. Mas até quando seguiremos nessa toada?
Há alguns pontos de atenção em relação a uma aposta muito forte no Trump Trade. O primeiro questionamento essencial é o quanto de fato os discursos e futuras atitudes de Trump em um segundo mandato seriam semelhantes aos do primeiro: quanto é possível efetivamente cortar em impostos? Quais medidas serão tomadas em prol do protecionismo? Muitas vezes, o ruído é muito diferente do fato.
O segundo é Kamala Harris. As apostas e pesquisas de intenção de voto mudaram radicalmente desde o último domingo (21), quando Joe Biden desistiu da reeleição e passou a apoiar a candidatura de sua vice, Kamala Harris (que ainda não está oficializada). Há agora mais incerteza sobre quem será o futuro presidente do país.
Por fim, é essencial acompanhar os movimentos macro, como a própria trajetória da inflação, a atividade econômica e a taxa de juros. Paralelamente ao Trump Trade, os mercados vêm se apoiando na forte probabilidade de cortes de juros pelo Fed já em setembro, expectativa que contribuiu para a rotação já mencionada na bolsa. A pergunta agora é o quanto desse movimento já foi precificado e o que podemos esperar para frente.
Paula Zogbi
Gerente de Research e Head de conteúdo na Nomad, tem mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro, foi head de conteúdo na XP, analista na Rico e jornalista na InfoMoney e EXAME. É graduada em jornalismo pela USP e tem certificação CNPI pela Apimec.
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