por
Nickolas Lobo
Paula Zogbi
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Em 2024, as criptomoedas apresentaram algumas das melhores performances entre as classes de ativos. O Ethereum subiu 42%, o Bitcoin valorizou 130% e a Solana teve um aumento impressionante de 127%.
Esse movimento reflete a combinação de fatores como a adoção institucional, avanços regulatórios e produtos inovadores, como ETFs de Bitcoin, que já acumulam mais de US$ 92 bilhões em ativos sob gestão. O Bitcoin, por sua vez, permanece como o ativo mais resiliente do mercado cripto, sustentado por sua escassez e previsibilidade, características que o tornam uma alternativa robusta frente aos níveis recordes de dívida e expansão monetária nos EUA.
A sustentabilidade do Bitcoin no longo prazo dependerá de inovações que ampliem sua funcionalidade. Com a redução progressiva das recompensas por mineração, as taxas de transação devem se tornar essenciais para a manutenção da rede. Tecnologias como a Lightning Network já foram projetadas para transformar o Bitcoin em uma rede de pagamentos eficiente, permitindo transações rápidas e com custos reduzidos. Apesar desses avanços, seu posicionamento como um ativo de proteção de valor ainda não foi comprovado pelo comportamento do mercado.
A alta volatilidade das criptomoedas é amplamente influenciada por efeitos de demanda sensíveis ao noticiário e a discussões regulatórias, tornando complexa a estimativa de preços. Ainda assim, em 2024, grande parte do movimento de alta foi impulsionado por evoluções regulatórias, novos formatos de adoção e negociação, como os ETFs.
Nos Estados Unidos, a nomeação de Scott Bessent como Secretário do Tesouro trouxe expectativas positivas. Apesar de não ser o candidato mais entusiasta em relação ao Bitcoin, Bessent afirmou em entrevistas que a "criptoeconomia veio para ficar". Há também um crescente debate político sobre a criação de uma reserva estratégica de Bitcoin nos EUA, uma proposta defendida por Trump. Embora sua implementação exija aprovação legislativa, o fato de o tema estar em pauta já sinaliza mudanças significativas. Além disso, existe uma tendência de deslocar a regulamentação de criptoativos para a CFTC, reduzindo a abordagem intervencionista da SEC.
Tokens cripto também enfrentam desafios regulatórios. Um ambiente mais regulamentado permitiria o registro de tokens como títulos financeiros, atraindo investimentos institucionais e possibilitando a criação de fundos ativos por grandes gestoras, superando o modelo passivo atual de ETFs.
Stablecoins têm ganhado destaque, com suporte bipartidário que pode resultar na aprovação do primeiro marco regulatório específico em 2025. Isso permitiria a integração dessas moedas com sistemas de pagamento, como o PYUSD do PayPal, evidenciando a crescente integração das stablecoins ao ecossistema de pagamentos digitais.
No futuro, um governo Trump pode impulsionar ainda mais o mercado de ativos digitais além do Bitcoin. Blockchains como Ethereum e Solana dependem de uma regulamentação clara para pagamentos com stablecoins, tokenização de ativos tradicionais e definição do status legal dos criptoativos. Além disso, investir em cripto não precisa se limitar às moedas, mas pode incluir companhias expostas a esse mercado e seus catalisadores, oferecendo benefícios indiretos.
Por que prestar atenção
Desde o início do ano, as Criptos vem apresentando uma das melhores performances entre as classes de ativos, com retornos impressionantes como Ethereum (ETH +50%), Bitcoin (BTC +120%) e Solana (SOL +140%), respondendo especialmente a evoluções em produtos relacionados e ao resultado eleitoral americano. O Bitcoin continua sendo o ativo mais resiliente dentro do universo cripto, com catalisadores de longo prazo ligados a níveis recordes de dívida e expansão monetária nos EUA, fatores que sustentam a demanda por ativos robustos baseados na tese de escassez, como ouro e Bitcoin. Além disso, o acesso institucional segue em crescimento, estimulado pelo sucesso dos ETFs de Bitcoin, que já acumulam mais de US$23 bilhões em fluxos positivos, aumentando ainda mais a sua adoção e consequentemente reforçando o lastro de valor, lembrando que o BTC representa uma participação 0,3% nos ativos financeiros globais e ainda possui espaço para crescimento.
Fundamentos - O Bitcoin
O Bitcoin foi a primeira criptomoeda criada, em resposta à crise financeira de 2008. Ele surgiu como uma solução para transferências digitais de valor sem a necessidade de centralização, como bancos ou processadores de pagamento, registrando transações financeiras de maneira transparente e segura em uma blockchain. A manutenção dessa rede é feita por milhares de mineradores, indivíduos que utilizam poder computacional para validar transações e adicionar novos blocos à blockchain. Para isso, esses mineradores precisam resolver problemas criptográficos complexos, conhecidos como puzzles de hash. Aqueles que conseguem completar o desafio recebem Bitcoins como recompensa. Esse processo de mineração é a única forma pela qual novos Bitcoins são criados.
A rede Bitcoin utiliza o mecanismo de "Proof-of-Work" (PoW) como base para suas operações. Esse mecanismo exige que os mineradores realizem um trabalho computacional significativo antes de validar transações. Esse trabalho envolve a resolução de um enigma matemático que garante a segurança da rede. O minerador que resolve o problema primeiro ganha o direito de processar o bloco e é recompensado com Bitcoins recém-criados. Essa competição entre mineradores protege a rede contra-ataques e mantém a integridade de suas transações.
O token Bitcoin (“moeda”) desempenha dois papéis principais: ele é utilizado como recompensa para incentivar os participantes a processarem transações e como uma unidade de registro na memória descentralizado da rede. O fornecimento total de Bitcoin é limitado a 21 milhões de unidades, o que garante sua escassez digital e diferencia a criptomoeda de moedas fiduciárias que podem ser emitidas em volumes ilimitados.
O valor do Bitcoin está intrinsecamente ligado a oferta e demanda do ativo, mas também à sua escassez e à previsibilidade. A moeda tem unidades fixadas para a circulação, oferecendo uma alternativa ao sem poder sofrer efeitos de políticas monetárias. Além disso, a emissão de novos Bitcoins é regulada por um processo chamado halving, no qual a recompensa dos mineradores é reduzida pela metade aproximadamente a cada quatro anos, limitando a emissão de novas moedas - um desses eventos aconteceu em 2024, sendo mais um fator de sustentação das altas do preço.
A sustentabilidade do Bitcoin no longo prazo também depende de inovações que aumentem sua funcionalidade. À medida que a recompensa por mineração diminui e se aproxima de zero, as taxas de transação se tornam essenciais para manter a rede. Melhorias como a Lightning Network foram projetadas para ampliar o uso do Bitcoin como uma rede de pagamentos eficiente, permitindo transações rápidas e com custos reduzidos. Essa evolução fortalece a posição do Bitcoin como um ativo produtivo e funcional, mas seu posicionamento como um ativo de proteção de valor ainda não foi comprovado pelo comportamento de mercado.
Estimar o preço-alvo do Bitcoin ou outro criptoativo é algo complexo, dado que a maior parte do efeito de volatilidade é por conta de efeitos de demanda, muito influenciados pelo noticiário e ainda extremamente sensíveis a discussões regulatórias. Contudo, desde o início do ano a maior parte do movimento vem da decorrência de uma combinação de evoluções regulatórias e novos formatos de adoção e negociação (vide os ETFs de Bitcoin, que atingiram US$ 92 bilhões em ativos sob gestão em menos de um ano), com possíveis mudanças estruturais que dão suporte para o preço.
Recentemente, ocorreu a nomeação do novo Secretário do Tesouro americano com Scott Bessent, que, embora não fosse o candidato mais entusiasta de Bitcoin (no caso, Howard Lutnick, nomeado para a secretaria do comércio), já forneceu pistas de que pretende estimular esse mercado e chegou a dizer em entrevista em julho que a “criptoeconomia veio para ficar”.
Há também um crescente ímpeto político para a criação de uma reserva estratégica de Bitcoin nos EUA, defendida em campanha por Trump. Embora a implementação de tal política exija um longo processo legislativo, o simples fato de o tema estar em pauta já sinaliza mudanças significativas. Essa proposta está alinhada com uma tendência global em que políticos pró-liberdade promovem o Bitcoin como um ativo estratégico. No atual ciclo, a demanda por Bitcoin tem sido liderada por instituições, empresas e investidores de varejo, mas potencialmente o próximo ciclo pode ser conduzido por fundos soberanos. Além disso, uma abordagem mais favorável pode deslocar a regulamentação cripto para a CFTC, eliminando a prática de "regulação por imposição" da SEC.
O efeito pode ser o mesmo pensando nos tokens cripto, que enfrentaram desafios relacionados à captura de valor, especialmente sob a regulamentação da SEC. Com um ambiente regulatório mais claro, a possibilidade de registro de tokens como títulos financeiros pode abrir portas para investimentos institucionais, além de criar fundos ativos de tokens cripto por grandes gestoras de ativos, superando o modelo passivo atual de ETFs cripto.
Stablecoins: O suporte bipartidário às stablecoins, classe de criptoativos projetadas para manter um valor estável em relação a um ativo de referência, pode resultar na aprovação do primeiro projeto de lei específico para stablecoins em 2025. Esse marco possibilitaria a integração das emissoras de stablecoins com sistemas de pagamento. Já existem alguns direcionamentos para pagamentos como o PYUSD do PayPal, mostrando que o mercado de stablecoins está cada vez mais integrado ao ecossistema de pagamentos digitais.
Com um governo Trump potencialmente focado na evolução desse mercado, um ambiente regulatório favorável pode abrir oportunidades para todos os ativos digitais além do Bitcoin. A utilidade de blockchains como Ethereum e Solana depende de uma estrutura regulatória clara para pagamentos com stablecoins, tokenização de ativos tradicionais e definição sobre o status legal dos criptoativos.
Vale ressaltar que o investimento em cripto não precisa ser necessariamente investindo nas moedas, mas também em companhias que tenham exposição aos catalisadores e que podem apresentar benefícios indiretos.
Seleção das maiores companhias que têm exposição a tese e o consenso do mercado em relação às companhias consolidado pela Factset:
Robinhood Markets, Inc. (HOOD): é uma plataforma de serviços financeiros que oferece corretagem de varejo, possibilitando negociações de ações listadas nos EUA, fundos negociados em bolsa (ETFs), opções relacionadas e negociação de criptomoedas, além de serviços de gestão de dinheiro, como cartões de débito.
Block, Inc. (SQ): se dedica à criação de ecossistemas para públicos distintos. Opera por meio dos segmentos Square e Cash App. O segmento Square oferece às empresas a capacidade de aceitar pagamentos com cartão. O segmento Cash App oferece um ecossistema de produtos e serviços financeiros para ajudar os consumidores a gerenciar seu dinheiro.
PayPal Holdings, Inc. (PYPL):desenvolve plataformas tecnológicas que possibilitam pagamentos digitais e simplificam experiências de comércio para comerciantes e consumidores em todo o mundo. Suas soluções incluem os produtos PayPal, PayPal Credit, Braintree, Venmo, Xoom e Paydiant. A empresa também permite que consumidores realizem transações financeiras com comerciantes utilizando fontes de financiamento como conta bancária, saldo de conta PayPal, crédito PayPal, cartões de crédito e débito ou outros produtos de valor armazenado. Opera por meio de segmentos geográficos nos Estados Unidos e em outros países.
Coinbase Global, Inc. (COIN): oferece produtos e serviços de infraestrutura tecnológica e financeira. Seus serviços incluem tecnologias baseadas em criptomoedas, como carteiras de autocustódia, aplicativos e serviços descentralizados, além de plataformas de engajamento comunitário abertas.
MicroStrategy, Inc.(MSTR): Se dedica à oferta de software de análise empresarial e mobilidade. A empresa projeta, desenvolve, comercializa e vende plataformas de software por meio de acordos de licenciamento e assinaturas baseadas na nuvem, além de serviços relacionados. Seus pacotes de produtos incluem o Hyper.
Tesla, Inc.(TSLA): Se dedica ao design, desenvolvimento, fabricação e venda de veículos elétricos e sistemas de geração e armazenamento de energia. Opera por meio dos segmentos Automotivo e Geração e Armazenamento de Energia. O segmento Automotivo abrange o design, desenvolvimento, fabricação, venda e leasing de veículos elétricos, bem como a venda de créditos regulatórios automotivos. O segmento Geração e Armazenamento de Energia envolve o design, fabricação, instalação, venda e leasing de produtos de geração de energia solar, armazenamento de energia e serviços relacionados, além da venda de incentivos para sistemas de energia solar.
Usando o consenso das projeções fornecidos pela Factset, quando olhamos para as empresas mencionadas como um todo, podemos observar que a relação de crescimento esperado de lucro por ação (Earnings per Share - EPS) e múltiplo das companhias, apenas Paypal e Block estão abaixo da linha de regressão do que é apresentada para o S&P 500. Coin apresenta uma redução de projeção de lucro estimada pelo consenso olhando os próximos 24 meses. No caso de Micro Strategy, a companhia ainda não possui um lucro positivo que está projetado pelo consenso para se tornar positivo nos 24 meses e não foi colocada no gráfico de dispersão abaixo por conta de distorções.
Nickolas Lobo
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Paula Zogbi
Gerente de Research e Head de conteúdo na Nomad, tem mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro, foi head de conteúdo na XP, analista na Rico e jornalista na InfoMoney e EXAME. É graduada em jornalismo pela USP e tem certificação CNPI pela Apimec.
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