Após estímulos na China, vale a pena investir?

Após longa espera, a China anunciou um amplo pacote de estímulos à economia. Vai vingar?

por

Paula Zogbi

Danilo Igliori

3 min.

-

Publicado em

6/10/2024

Já se passou uma semana completa da divulgação do “pacotão” de estímulos da China. Nos primeiros dias, antes de um longo feriado no país, houve uma nítida corrida por compras de ativos chineses, por investidores que não querem ficar de fora de um possível rali. Agora, as perguntas que ficam são:

1. No médio prazo, esse pacote será o suficiente para mudar a história da China?

2. É hora de investir?

Primeiro, é sempre importante trazer um pouco de contexto. A China foi um país que aplicou medidas bastante severas de isolamento durante a pandemia, e isso criou um cenário difícil para a economia, com crescimento bastante prejudicado. Até aí, nada muito diferente do resto do mundo. Mas a velocidade da recuperação depois da pandemia ficou muito aquém do esperado até agora. E isso segue uma tendência de desaceleração que vinha sendo observada desde 2010: após um crescimento consistente de dois dígitos entre 1980 e aquele ano, a taxa estava mais próxima de 6% até antes da pandemia. Em 2020, o crescimento do PIB chinês foi de 2,2%, seguido por 8,4% em 2021 (sobre uma base relativamente fraca) e 3% em 2022. Para este ano, a meta de crescimento é de 5%.

A crise no mercado imobiliário é um dos grandes desafios. Também em 2020, o governo chinês passou a apertar a regulação do setor de construção civil, que era fortemente alavancado, com base na premissa de que imóveis são destinados à moradia, e não especulação. Para encurtar uma história longa, a insolvência afetou empresa atrás de empresa, culminando na falência da Evergrande, que já foi a maior do mundo no segmento, em 2023. 

Boa parte da população chinesa tem seus investimentos em imóveis, e a queda forte nos preços, junto com a dificuldade em negociar esses ativos, diminui a confiança e a liquidez (leia-se: se seu principal investimento está desvalorizado, você não tende a ter apetite para aplicar em outros ativos de risco). Somam-se a isso fatores como a redução da população em idade ativa e a consequente queda na produtividade. Já se fala até que a China pode se tornar o novo Japão, que vive um longo período de estagnação.

Por isso, desde 2023 se aguardava algo parecido com o que foi anunciado pelo governo Xi Jinping na semana passada. Em resumo: 

  1. Estímulos monetários, incluindo cortes nas taxas de juros de financiamento imobiliário;
  2. Linhas de crédito voltadas ao mercado de ações (em outras palavras: dinheiro carimbado, para que gestores e companhias invistam especificamente em ações);
  3. Estímulos fiscais, ou seja, gastos públicos, que ainda não foram detalhados, mas já animaram o mercado. 

A pergunta que fica agora é se o movimento veio para ficar ou vai ser “voo de galinha”. Mesmo após a forte alta que seguiu os estímulos, especialistas na região acreditam que as ações chinesas continuam subvalorizadas. Olhando para o índice CSI300, a medida de preço/lucro ajustado ciclicamente, conhecida como Shiller P/E Ratio, que calcula a relação entre preço das ações e a média de dez anos de rendimentos, ajustado pela inflação, está em 16x, ainda abaixo da média histórica de 17,1. Se os estímulos realmente funcionarem, as empresas poderiam desempenhar melhor do que nos últimos anos, alterando essa métrica. 

Ao mesmo tempo, não dá para ignorar o contexto. No final da semana, ETFs chineses tiveram forte queda em meio à realização dos ganhos ligados ao rali pós-estímulos. Além de embolsar os lucros, investidores voltaram a se preocupar com os efeitos mais profundos da crise imobiliária e, adicionalmente, notícias sobre prováveis tarifas de importação sobre veículos elétricos chineses por países europeus. As eleições americanas no horizonte também adicionam incerteza, com a possibilidade de novas políticas no mesmo sentido nos EUA. 

Paula Zogbi

Gerente de Research e Head de conteúdo na Nomad, tem mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro, foi head de conteúdo na XP, analista na Rico e jornalista na InfoMoney e EXAME. É graduada em jornalismo pela USP e tem certificação CNPI pela Apimec.

10

artigos

Danilo Igliori

Economista-chefe da Nomad. Professor do Departamento de Economia da FEA-USP, PhD pela Universidade de Cambridge. Foi um dos fundadores da DataZAP, no Brasil já atuou em empresas como BTG Pactual, Unibanco, Vale, Grupo Zap e OLX, e no Reino Unido, em agências internacionais como Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento.

7

artigos

newsletter

Junte-se a mais de 2 milhões de investidores no exterior

Veja a última newsletter

Inscrição enviada!

Agradecemos seu interesse em receber nossos conteúdos.

Ops! Algo deu errado em sua inscrição. Por favor, tente novamente.